A garantia de uma educação de qualidade perpassa imprescindivelmente pela oferta de condições estruturais adequadas a esse fim. A garantia de uma educação de qualidade perpassa imprescindivelmente pela oferta de condições estruturais adequadas a esse fim. Não se trata apenas da construção de unidades educacionais, mas de escolas que atendam às reais necessidades do ensino e que proporcionem o pleno desempenho das atividades que nela se desenvolvem.
Grande parte das escolas em nosso estado tem funcionado de forma precária, com instalações inadequadas, oferecendo muitos transtornos e riscos à saúde e à vida dos professores, funcionários e alunos.
Todos os anos os gestores sergipanos bombardeiam a população com propagandas políticas sobre investimentos em educação. O governo do estado, em 2005 e 2006 tem noticiado gastos milionários para a construção e reestruturação de unidades educacionais. Tanto investimento já deveria ter começado a dar resultados. No entanto, a demanda por esses serviços continua elevada, como demonstra os dados da pesquisa.
Gráfico 7
Necessidades das escolas em Sergipe – Estrutura física
Fonte: Perfil 2006 – SINTESE
As maiores necessidades verificadas quanto à reestruturação das escolas estão elencadas na tabela abaixo:
Tabela 1
Principais necessidades estruturais das escolas
REFORMA | AMPLIAÇÃO | MANUTENÇÃO |
Estrutura física Rede de esgoto Banheiros Telhados Quadras de esporte Cozinhas Muros Pisos Rampas para deficientes | Salas de aula Sala de professores Laboratórios Bibliotecas Salas de leitura Arquivos Almoxarifados Despensas Áreas para recreação Quadras de esporte | Rede elétrica Rede hidráulica Pintura Caixas d´água Capinagem Equipamentos Telhados Banheiros Quadros/lousas |
Fonte: Perfil 2006 – SINTESE
Muitas das unidades educacionais em nosso estado foram construídas sem um planejamento adequado para seu funcionamento. A maioria, em um período no qual os administradores consideravam que oferecer educação para a população, limitava-se à construção de salas de aulas. A evolução sobre o conceito de educação e as necessidades para sua efetivação não foi acompanhada pelas políticas educacionais. Dessa forma, é comum encontrarmos escolas por todo o território sergipano com estruturas seguindo padrões arcaicos, ineficientes e insalubres.
Nem mesmo as salas de aula atendem às necessidades pedagógicas e, ao invés de se constituir em um ambiente confortável e agradável, apresentam-se insalubres, provocando inúmeros transtornos. Um exemplo disso são aquelas mal planejadas, construídas sem oferecer nenhum tipo de ventilação ou iluminação natural e desprovidas dos equipamentos que poderiam gerar amenidades como ventiladores, ar condicionados e uma iluminação elétrica apropriada.
Como podemos perceber, mais da metade dos nossos alunos e professores têm se submetido a ministrar e assistir aulas de forma insuportável. Trazendo prejuízos à visão, na tentativa de conseguir ler e escrever num ambiente mal iluminado e sofrendo insuportáveis incômodos térmicos. Em decorrência disso, vemos alunos desatenciosos, suados e impacientes que precisam se ausentar da sala inúmeras vezes para tomar água, além de professores esgotados fisicamente e frustrados por não conseguirem desenvolver suas atividades de maneira satisfatória.
Gráfico 8
Salas de aulas sem iluminação e sem ventilação nas escolas sergipanas
Fonte: Perfil 2006 – SINTESE
Para agravar ainda mais essa configuração, a quantidade de salas não são compatíveis com o número de alunos matriculados nos estabelecimentos de ensino; fato verificado em 48,54% da rede estadual e 40,11% da rede municipal. Logo, a superlotação é uma realidade. Na rede estadual, 17,48% das salas estão com alunos em excesso. Muitas vezes, a saída encontrada para que a escola comporte a demanda de alunos da comunidade é a improvisação de salas, com a transformação de áreas completamente sem estrutura para esse fim. A exemplo de divisórias instaladas nos pátios de recreação, onde os alunos são confinados para assistirem às aulas.
A falta de investimento na manutenção das escolas leva a um estado extremo de deterioração, sendo que, na maioria das vezes, a única alternativa viável torna-se uma reforma geral, ocasionando custos muito elevados. Alguns dos problemas mais freqüentes estão ligados à degradação dos sistemas elétricos e hidráulicos, danos nos telhados e desgaste nas pinturas dos prédios.
Gráfico 9
Deterioração na estrutura física das escolas sergipanas
Fonte: Perfil 2006 – SINTESE
As reformas das nossas escolas são indispensáveis em decorrência não apenas da depredação e falta de manutenção permanente, mas da necessidade de uma adequação a padrões arquitetônicos que garantam o espaço físico adequado ao desenvolvimento do processo pedagógico de ensino e aprendizagem. Isso implica reafirmar que as práticas pedagógicas não se restringem à sala de aula, mas a toda uma gama de espaços intrínsecos e imprescindíveis à educação, como bibliotecas, salas de leitura, áreas recreativas, quadras esportivas, laboratórios, auditórios, dentre outros.
Quando se analisam as estatísticas da quantidade, qualidade e funcionamento das bibliotecas e salas de leitura das nossas unidades, fica fácil compreender porque os alunos não têm o hábito e o gosto pela leitura. Essa prática que deve ser estimulada desde os primeiros anos de vida para que se torne uma atividade prazerosa e consolidada ao longo do tempo, não é tratada, em Sergipe, com a prioridade que merece. A ausência desses espaços na maior parte das nossas escolas é o retrato do descaso com que esse aspecto é tratado.
Gráfico 10
Existência de bibliotecas nas escolas de Sergipe
Fonte: Perfil 2006 – SINTESE
Gráfico 11
Existência de salas de leitura nas escolas de Sergipe
Fonte: Perfil 2006 – SINTESE
As escolas precisam promover atividades que estimulem a rotina de leitura através do contato com diferentes tipos de fontes informacionais (livros, revistas, jornais, enciclopédias dicionários, anuários,etc.), mas para isso, necessitam oferecer uma infra-estrutura propícia. As bibliotecas e salas de leitura devem configurar-se em “espaços democráticos”, onde interajam alunos e professores no desenvolvimento de ações educativas e culturais.
Os problemas constatados na pesquisa não se resumem à falta de bibliotecas e salas de leitura, mas também na precariedade das que existem. As primeiras, funcionam com uma quantidade de livros insuficientes e desatualizados. As segundas, geralmente não passam de salas improvisadas, desaparelhadas, não atrativas e, conseqüentemente, pouco visitadas, deixando de cumprir sua função.
O caso dos laboratórios e das salas de vídeo não é muito diferente. Na rede estadual, apenas 15,53% das escolas possuem laboratórios e, na rede municipal, eles praticamente inexistem, não chegam a 1%. Nesses casos, mesmo havendo a estrutura física, não há condições de uso e funcionamento pois se encontram completamente sucateados, sem os aparelhos e equipamentos necessários.
Constantemente ouvimos falar em “modernização” das escolas públicas, sobretudo, referindo-se à inclusão digital, ou seja, a informática aplicada à educação. No entanto, sabemos que as novas tecnologias têm sido inseridas de forma incipiente e ainda não fazem parte do cotidiano escolar dos alunos e professores da rede pública de Sergipe. Nas unidades pesquisadas, só existem salas de informática em 21,84% da rede estadual e 3,51% da rede municipal e apenas 1/3 delas funcionam.
Os computadores alocados nessas escolas, além de obsoletos, não recebem manutenção e acabam virando verdadeiros “entulhos”. Cabe ressaltar ainda, que quando funcionam, o quadro de pessoal não se encontra apto a utilizá-los e, por conseguinte, os discentes terão pouco ou nenhum acesso a essas máquinas.
Diante desse quadro, percebe-se que na educação pública de Sergipe, a implantação da informática enquanto tecnologia que poderia ser utilizada com fins pedagógicos, educacionais, culturais e científicos não passa de “falácia”. Ademais, nossas escolas não carecem apenas de laboratórios como demonstra o gráfico a seguir:
Gráfico 12
Escolas de Sergipe sem espaços alternativos a práticas culturais, esportivas e de lazer
Fonte: Perfil 2006 – SINTESE